É praticamente um consenso entre especialistas e a população em geral, essa é a pior eleição da nossa curta e irregular democracia. O argumento mais comum para explicar o fenômeno, de que os candidatos seriam desprovidos de carisma, me parece superficial e fácil demais, mas o que poderia ter provocado tamanho distanciamento do povo para com o símbolo máximo de um país livre que são as eleições.
Tudo parece ter começado no “lulinha paz e amor” de 2002, sua primeira eleição equipado com uma equipe de marqueteiros profissionais, que comandaram uma completa transformação visual e de estilo, o barba maior do que o recomendado as camisas de malha e a fala cheia de raiva e excessos foi deixada de lado, e um Lula suave, contemporizador e bem vestido foi apresentado ao publico, tudo isso muito bem arrematado pela já famosa “Carta ao Povo Brasileiro”, que na realidade era dirigida aos mercados que tinham uma memória um pouco mais longa e por isso ainda mostravam receio pela crescente força do candidato.
Junto com a sua eleição Lula trouxe novos fatores ao jogo político brasileiro, seu enorme carisma junto à imprensa e a população em geral, a ausência de uma oposição digna do nome, e os marqueteiros, já que grande parte do mérito da eleição 2002 foi creditada na conta do publicitário Duda Mendonça (creditada numa conta no exterior, diga-se de passagem).
Com isso basta uma simples soma dos fatores acima para chegarmos a uma equação que representa a primeira das grandes causas do distanciamento das campanhas políticas para o povo brasileiro: A capacidade retórica de desconstruir o passado do presidente, aliado a facilidade com que o povo brasileiro esquece este mesmo passado, e a ausência de uma oposição que viesse lembrar ao governo e ao povo que a pólvora não tinha sido descoberta nos oito anos de governos Lula, permitiu o surgimento do mito de que só com um grande aparato de propaganda e marketing era possível disputar uma eleição para cargos majoritários no Brasil pós Lula.
E junto com os marqueteiros vieram suas fantásticas técnicas, dentre as quais merecem mais destaque três: Os super programas televisivos, cheios de efeitos visuais; a postura dos candidatos, totalmente amórfica durante suas sempre ensaiadas aparições e falas; e a terceira delas, que é a grande determinante das duas anteriores, AS PESQUISAS DE OPINIÃO. Qualquer pesquisa rápida na internet em busca de comentários de especialistas em política e você verá lá um parágrafo ou mais dizendo que determinada mudança na estratégia foi promovida após um “feedback das pesquisas de opinião internas”, o nome soa bem e passa realmente credibilidade, mas uma das coisas que mais me marcaram durante o período em que estudei comunicação social foi a lição de que pesquisas de opinião devem ser lidas com muito cuidado, pois elas são apenas um retrato racional de um determinado momento, enquanto as decisões são em grande parte movidas por questões muito mais subjetivas e emocionais.
Um belo exemplo ilustrativo é o case da Coca-Cola, que em 1985 após um período de constante queda na sua parcela de mercado resolveu encomendar ao seu departamento de marketing uma pesquisa de opinião para descobrir qual era o problema e após uma boa quantidade de dólares gasta chegou-se a conclusão de que o grande problema da Coca Cola era que o sabor que já não correspondia ao que as pessoas esperavam, então muitas pesquisas depois para determinar o sabor exato que as pessoas queriam, foi lançada a New Coke. Obvio foi um RETUMBANTE FRACASSO e um dos maiores micos que uma multinacional já protagonizou. (detalhes aqui e aqui e nesse livro que dedica um de seus capítulos ao caso [Vale dizer que recomendo muito o livro])
A soma de todos esses fatores chega ao seu ápice nos debates presidenciais, mas não em qualquer debate, e sim no debate da Rede Globo de Televisão. Porque na realidade é o único que importa do ponto de vista da audiência direta com o eleitor e não sei se por culpa da emissora ou dos candidatos nós somos obrigados a assistir cenas patéticas, o pobre (no sentido figurado claro) fica em pé lendo papeizinhos que contem apenas uma palavra, coisa que qualquer criança de 12 anos poderia fazer com a mesmo qualidade, enquanto os candidatos que já sabendo os temas que contem a caixa de sorteio simplesmente usam o programa pra expor suas falas decoradas junto ao seu staff. Além disso, a mecânica pergunta, resposta, replica e treplica, todas com tempos desiguais, favorece o candidato que responde de tal maneira que permite que a palavra final seja uma mentira ou uma manipulação de argumento fazendo com que muitas vezes os candidatos evitem o confronto direto com os principais adversários.
José Serra foi o único que tentou alguma coisa, os outros ficaram só nos comentários decorados ou pior ainda rasteiros.
Agora repare bem no debate de quinta à noite, na presença inútil do Bonner que foi relegado na maior parte do tempo ao papel de plateia enquanto os candidatos ao invés de debater, simplesmente faziam uma exposição dos textos indicados pelos seus marqueteiros. Todos com medo de um debate que não da oportunidade de defesa, com medo de desobedecer às sagradas pesquisas que dizem que não pode atacar o oponente quando ele mente.
Agora veja um debate deste mesmo país, porém pré Lula-2002, portanto anterior a era do “Todo Poder Aos Marqueteiros”, na disputa pelo governo de São Paulo entre Mario Covas e Paulo Maluf
Maluf e Covas mostram que ouve uma época a nem tanto tempo atrás em que os candidatos se enfrentavam realmente, sem marketing, cada um com sua capacidade de oratória.
Aaah mas você provavelmente vai dizer que esse tempo não existe mais, que não é possível debater idéias ou ter uma disputa mais aberta. Mesmo que hipoteticamente eu aceite esse argumento, tenho outro vídeo pra mostrar, é o debate dos presidenciáveis, veja se em algum momento aparece o relógio dizendo que o tempo dos candidatos esta acabando, veja se o mediador fica somente fazendo apenas figuração. (clique aqui e leia a matéria do G1 sobre o debate, falando sobre as regras e as expectativas)
Debate entre os candidatos americanos, sem relógio e sem vantagem de ser o ultimo a falar pra ninguém.
Um leitor mais sagaz pode argumentar que os debates selecionados pra exemplificar bons momentos envolvem apenas dois candidatos e é isso mesmo, do meu ponto de vista não deveria existir debates com mais de dois candidatos, que se fizesse vários debates, em cada deles, dois diferentes adversários se enfrentariam até todos terem enfrentados todos. Ou quem sabe alguém tem alguma outra solução, uma coisa eu digo, do jeito que esta todos nos que estamos fora do circuito politico vamos ser deixados de lado. é como diz a máxima: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles gostam.” Platão
Um Sopro de Esperança
Porem nem tudo esta perdido, hoje saiu uma nota na coluna
Radar Online da revista veja que diz que o candidato José Serra pretende que seja adotado o padrão americano nos debates de um eventual segundo turno.

Autor: Diego Milward