A elegância da discussão

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Vi na coluna do Noblat no site do jornal O Globo e tive que compartilhar.

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- A senhora poderia retirar essa bolsa daí? (no chão, ocupando um espaço perto da janela)
- Por que eu retiraria?
- Ora essa, porque o ônibus está apertado!
- E retirar a minha bolsa vai fazer o ônibus ficar mais folgado?
- Mas…
- Eu cheguei antes e me instalei. Não saio daqui.
Silêncio.
- O que a senhora está me olhando?
- Eu tenho o direito de olhar, ué. Qual o problema? A senhora não tira a bolsa e eu não paro de olhar a senhora.
- Pois então olhe. Fique aí olhando o tempo que quiser. Pois eu não tiro a bolsa. Não tiro mesmo.

É assim que os franceses discutem. E é claro que não termina assim, porque ainda há muitas paradas pela frente até chegar a hora de uma das duas descer. O pingue-pongue pode durar horas, sempre no mesmo tom de voz e no mesmo nível argumentativo.

A gente, que é brasileiro, fica naquela agonia. Ai, meu Deus, vai sair tapa. Uma vai xingar a mãe da outra.

Mas não. Fica só nisso mesmo. Uma fala de um lado, a outra fala do outro. “J’ai le droit…”, “vous n’avez pas le droit…”, o tal do direito é invocado milhares de vezes por ambos os lados da peleja.

Meu amigo casado com uma francesa conta do dia em que, em um bar, uma pessoa começou a falar mal do Brasil. A esposa dele imediatamente retrucou. E as duas ficaram naquela discussão, “j’ai le droit” pra cá, “reviens au sujet” pra lá. E ele meio constrangido.

Acabou que a esposa resolveu ir para casa mais cedo. Ele continuou a noitada com os amigos. Quando chegou em casa, ouviu dela: “interessantes os argumentos daquela moça, não? Gostei de discutir com ela!”. E ele achando que ela tinha ido embora com raiva!

É assim, como praticar um esporte. A discussão saudável, elegante, sem achincalhes, sem humilhações, sem desqualificar o outro simplesmente porque ele tem a ousadia de não concordar com você. Apenas uma sucessão de argumentos – não de críticas vazias e raivosas.

Bonito, não é?

Carolina Nogueira é jornalista e mora há dois anos em Paris, de onde mantém o blog Le Croissant


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