Nós brasileiros somos índios resmungões que nunca vamos evoluir. Simples assim.
Porque eu digo isso você pode estar se perguntado. E aqui vamos nós na explicação.
Peguemos o metro como objeto de estudo antropológico. As pessoas reclamam diariamente sobre as condições "sub-humanas" e etc. Talvez um primeiro pensamento de todo mundo seja concordar, até porque usualmente essa corrente de pensamento vem ilustrada por imagens televisivas de pessoas amassadas, pisadas, espremidas. Mas será que as pessoas são assim tão inocentes?
Disclaimer: Todas as minhas observações são baseadas em experiências vividas no Rio de Janeiro, se sua cidade é diferente lamento, não fique de mimimi.
Digamos que a porra do vagão do metro caibam 1.000 pessoas, você tem 1.736 pessoas entre o fim da escada rolante que leva a plataforma e a porta do trem que acabou de chegar a estação. O que faz um filha da puta que acabou de passar pelo ultimo degrau da mesma escada rolante já comentada. Bem ele tem poucas opções:
- Esse vagão esta cheio, vou esperar as pessoas que estão na minha frente entrarem enquanto me aproximo do próximo do ponto de embarque para pegar o próximo; OU
- Porra, esse bando de fdp ta na minha frente, ficam molengando, não tem porra nenhuma pra fazer, eu tenho que pegar essa merda de metro, sai da frente... (em cada virgula você imagine 50 pessoas sendo empurradas para os lados.)
Se cada pessoa daquelas 1.736 pensassem usassem o pensamento 1, problema resolvido entrariam as 1.000 pessoas que cabem no vagão e portanto ninguém ficaria espremido, as pessoas teriam desenvolvido um nível de consciência que não permitiria mais que os assentos preferenciais fossem ocupados por jovens de 25 anos enquanto a tia mais velha de Matusalém esta sacolejando de uma porta a outra.
Mas não, a regra é usar a metodologia 2 e foda-se o mundo. Você paga de espertão e não lamenta uma virgula pelos que você incomoda, mas fica todo revoltadinho quando o cara que estava no meio da escada tem a mesma e brilhante ideia que você e o pé dele ocupa o espaço que você achava que era seu, obrigando que você desenvolva técnicas de flutuação avançada.
Mas existe um exemplo pior, muito pior. Atualmente moro em Niterói, uma cidade de gente fina e elegante na região do Grande Rio, porém essa cidade é circundada por cidades que são o oposto. E todos dessa região usam a barca para chegar aos seus trabalhos no centro do Rio de Janeiro.
Como você pode imaginar, o principio aplicado ao metro é expansível a barca e a qualquer tipo de transporte publico de acesso e tempo controlado.
O que torna a barca muito pior em termos de comportamento humano é o simples fato que as roletas de acesso a zona de embarque são controladas por computador, permitindo que apenas o numero de pessoas estabelecido pela capitania dos portos entre na embarcação.
Em termos práticos isso significa que supondo que a barca caibam 2.500 pessoas sendo 1.500 sentadas e 1.000 em pé, esse é exatamente o numero de pessoas que terão acesso a zona de embarque, numero esse que pode ser visto por qualquer pessoa na fila de acesso, já que é exibido em uma tela central de 42”.
Agora acompanhe comigo:
A barca sai diariamente nos mesmos horários, por conseqüência costuma levar as mesmas pessoas que obviamente já sabem mesmo que aproximadamente a quantidade de assentos disponíveis por viagem. Ai o fdp vê lá no monitor que faltam cinco lugares para encher a barca que sai as 8 horas e faz o que... Sai correndo feito um louco para conseguir embarcar.
Consegue, mas como era obvio a barca já esta cheia, sua poltrona preferida já esta ocupada, já existe fila na lanchonete do segundo andar e só sobrou uma vaguinha perto da porta dos fundos, bem longe da porta de desembarque.
Você foi um dos últimos passageiros a embarcar, talvez o ultimo, deveriam imaginar que isso aconteceria. Mas não, o que você faz? Reclama que a barca esta cheia, que você não consegue sentar que que isso é um absurdo, que esta caro, que o blá blá blá.
Eu usei a barca por mais de uma ano e meio e tive exatamente dois dias de aborrecimento, um por causa de um piloto que não sabia estacionar na Praça XV, e outro um dia que houve uma acidente e as filas ficaram longas demais.
Afora esses dias eu sempre embarquei no horário programado, sentado no meu lugar preferido, lendo tranquilamente um livro por 17 minutos (enquanto alguém de ônibus sentindo cheiro de CC levaria uma hora e meia) e nunca entendi as pessoas do meu lado choramingando que eram mal tratadas.
No fundo você recebe exatamente aquilo que você oferece as outras pessoas que usam o transporte publico com você e nem adianta ficar de chororô.