A pouco mais de um ano atras, escrevi aqui neste espaço, sobre a promoção que tinha recebido no trabalho, iria chefiar minha própria equipe, e como estava grato e ansioso pelo desafio. No fim daquele texto eu comento como o salário, nem por um minuto sequer foi levado em consideração ao aceitar a proposta.
No recesso no último fim de ano, ao reavaliar meu ano profissional, ele finalmente se tornou parte da equação. Trabalhei duro durante todo o ano de 2012, vi a empresa crescer e vi o departamento que eu cuidava sendo o único que não trazia problemas, pelo contrario trazia soluções para a empresa. Achei que era a minha vez de ganhar alguma coisa já que meus chefes tinham ganho um funcionário extremamente dedicado, produtivo e eficiente por uma pechincha.
Infelizmente, algumas pessoas são melhores fazendo as promessas do que as mantendo e meu chefe direto, que também é um dos sócios da empresa, é uma dessas pessoas.
Já no meio do ano passado, ao solicitar que ele fizesse uma avaliação dos meus primeiros seis meses na função fui muito elogiado - realmente estava fazendo um grande trabalho - e o assunto salário veio a tona. Ele admito que meu salário inicial na função estava abaixo do justo, e que corrigiria isso em no máximo três meses. Ok, eu disse.
Passaram-se os três e mais três meses e nada aconteceu, ou melhor, o trabalho aumentou exponencialmente enquanto o contra-cheque continuava aquém das expectativas. Dessa vez eu não era mais alguém querendo querendo provar o meu valor, eu tinha fatos e argumentos sólidos para provar a minha importância para a empresa.
Não é que seis meses antes eu não tivesse certeza do valor que eu tinha, ou do bom trabalho que eu fazia, mas dentro de uma analise fria, achava que não ficaria bom pressionar demais e acabar demitido com poucos meses na função. Séria obrigado a dar um passo atrás e não estava disposto a isso.
Agora já com mais de um ano na função e com muitos fatos que comprovavam o quanto de valor eu gerava para a empresa a minha disposição eu sabia que estava numa posição muito melhor e sabia também que no curto e médio prazo eu não poderia facilmente ser substituído. Era hora de ir a luta.
Despejei todo os meus argumentos de porque eu merecia ser melhor valorizado e fiz minha jogada.
Meu chefe reagiu aparentemente bem, porém, eu senti o risco quando novamente ele me pediu três meses para "organizar o fluxo de caixa dele".
Aproveitei que a conversa tinha sido franca, que ele tinha se aberto sobre o sócio e que tínhamos conversado sobre N outros problemas da empresa e não deixei que a promessa passasse sem deixar claro que eu sábia o que ele estava fazendo. Lembrei-o da promessa anterior e de que três meses tinham virado seis e nada tinha acontecido. Ele olhou dentro dos meus olhos e falou que sabia que tinha falhado comigo e que era para eu confiar nele.
Eu confiei. E passou Janeiro, Fevereiro e finalmente Março. Eu esperei pacientemente, trabalhei ainda mais duro na expectativa que o prêmio viria em breve.
Quando Abril chegou e praticamente ia passando sem que nada acontecesse eu não me contive, perguntei se "aquele extra" ia sair, já com uma pitada de ironia lá no fundo da frase. Mas desculpas, mas conversa triste e mais tempo solicitado para "acertar as coisas".
Se alguém trai você uma vez, a culpa é dele. Se trai duas vezes, a culpa é sua.
Eleanor Roosevelt
Eu sabia que as coisas nunca iam "ficar acertadas", mas o medo do desconhecido, os prós e os contras de um pedido de demissão ficaram martelando sem me deixar ter certeza de nada. Eu tinha compromissos financeiros, poucas reservas e além disso, o que esperar do mercado? Eu tinha apenas um ano na minha função, seria isso suficiente para uma recolocação lateral ou eu teria que aceitar voltar a ser um soldado e lutar novamente por uma vaga melhor.
Eu conseguia, pela primeira vez na vida, entender o porque de algumas pessoas ficarem presas em empregos e vidas infelizes durante anos e anos. As vezes as variáveis se tornam tantas que você não consegue mais vislumbrar as coisas boas que podem vir das mudanças.
Eu estava desmotivado, frustrado, afundado num em um projeto paralelo na empresa e que simplesmente não parecia ter um fim a vista, muito menos um final proveitoso.
Foi uma semana sendo corroído pela duvida, até que o Destino, ou Deus, facilitou as coisas para mim. Foi contratada uma nova profissional para outro setor da empresa, ela teria uma cargo que em termos práticos seria o equivalente ao meu nesse outro setor. Porém ela teria a "vantagem" de gerenciar menos funcionários do que eu.
Quando eu vi que o meu aumento, que eu lutei para conseguir, tinha ido para o salário inicial dela eu percebi que eu nunca teria-o sem me humilhar diversas vezes implorando por ele. E eu não ia fazer isso.
Um dia depois de eu descobrir isso, quase que por coincidência, meu chefe me chamou e disse que tinha sido só um mal entendido e que ele não tinha dito que me daria o aumento naquele mês mas que tentaria me dar o aumento. Disse que sabia que eu merecia e que iria corrigir isso o mais rápido possível, que se eu tivesse paciência iria ganhar dinheiro com ele.
Acredito que a pior coisa que alguém possa fazer é se menosprezar. Se você não colocar um valor mínimo por você, é muita ingenuidade achar que os outros iriam fazer. Tenho certeza que em certo ponto ele se convenceu que eu era apenas um garoto ingênuo que não teria a coragem de sair dali.
Ledo engano. No dia seguinte mandei alguns currículos pela manha e logo depois do almoço recebi uma ligação chamando para um entrevista no dia seguinte. Fui, fiz uma prova e uma entrevista e ao sair pude repetir a famosa frase de Julio Cesar: - "Veni Vidi Vici". Bastava um telefone no dia seguinte para dizer se e quando eu poderia começar e estava contratado.
Por mais que estivesse orgulhoso da minha capacidade de conseguir um novo emprego tão rápido, o medo continuava lá. Será que estou fazendo a coisa certa ou será que estou desistindo antes da hora? Eu estaria em um vão ou num beco sem saída?
Enquanto estava na barca Rio - Niterói indo para casa, quanto mais eu pensava, mais eu tinha certeza que estava tomando a decisão certa em sair, mas tinha certeza que estava em um beco sem saída na empresa.
Foi nesse ponto que me lembrei do livro The Dip, de Seth Godin. Em um determinado ponto do livro ele fala sobre Doug, que trabalhava numa empresa a quatorze anos e que já tinha tido varias promoções, era um funcionário talentoso e esforçado, mas que nós últimos tempos tinha mais promoções laterais do que verticais.
"Doug precisa deixar a empresa por uma razão muito simples. Lá todo mundo possui uma expectativa em relação a quem ele é e ao que pode fazer. Chegar ao topo começando como estagiário parece ótimo, mas, na realidade as chances são pequenas. Doug atingiu seu teto. Ele não será desafiado, pressionado ou promovido a presidente. Independente do que ainda pode realizar, Doug parou de evoluir - pelo menos aos olhos das pessoas que importam.
Se ele sair e começar a trabalhar em outra companhia, poderá se reinventar. Ninguém se lembrará do jovem Doug, o Doug de dez anos atrás. Eles o tratarão como o novo Doug, o Doug com potencial infinito e sem nenhum passado."
Eu era o Doug. E a coisa certa a fazer era desistir dos grilhões de um emprego se que tornava menos e menos estimulante para mim e mergulhar de cabeça na nova oportunidade.
O terrível e assustador desconhecido me chamava. Ele sempre tinha sido meu amigo, a coragem de abraçar a mudança sempre tinha sido meu grande super poder e não deveria renega-lo agora.
E foi o que eu fiz. No dia seguinte eu liguei para a empresa e disse que poderia começar na semana seguinte. Comuniquei a decisão para os meus chefes e só me resta agora ter a confiança de que tudo vai dar certo.
Alea Jacta Est. (a sorte está lançada)