
Normalmente é muito difícil falar de amor sem cair naquela coisa piegas e melosa, ou pior ainda, falar do fim do amor sem um dramalhão ainda mais meloso.
Mas o Éden do blog Um Passinho a Frente (blog pica das galáxias, #fikdica) conseguiu, num texto que juntou sutileza e profundidade ele mostra porque somente o amor não salva um relacionamento.
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As Vezes o “pouco” que uma pessoa te dá é TUDO que ela tem.
Eu costumo dizer a todos que uma relação, vista de forma bem pragmática e nada romântica, é um acordo onde duas pessoas abrem mão de algumas coisas para ter outras que não teriam sozinhas. Logico que a visão romântica de que o amor vence qualquer barreira é mais bonita… e mais decepcionante. Não vence. Existem barreiras que nenhum amor vence, principalmente quando essa barreira é a outra PESSOA, a pessoa amada. Algumas vezes existe um abismo imenso entre aquilo que você acha que merece, que quer, com o que a pessoa amada PODE dar. Veja bem, não estou falando de QUERER dar e sim de PODER mesmo. Você pode ser materialista e pensar logo em dinheiro – o que não invalida em nada a frase de Marcel – mas eu prefiro ser mais abrangente. Prefiro pensar em carinho, atenção, sexo, colo, apoio e afins.
Lembro de uma amiga que reclamava que o marido não estava disposto para o sexo todo dia como ela queria. Isso fazia ela acreditar que ele tinha outra, que estava perdendo o interesse, que tinha mudado. Ela nunca – e digo NUNCA mesmo – parou para observar que o cara trabalhava como um condenado para poder manter o padrão de vida alto que ela tinha antes de casarem. Ele trabalhava cerca de 14hs por dia. Vivia cansado, sem energia. Eu cansei de ouví-lo dizer que queria ter mais tempo para ela mas que tinha medo de perdê-la caso deixasse o padrão de vida cair. Egoístas, ambos. Ela porque nunca parou para ver o lado dele. Nunca parou que o pouco que ele dava era TUDO que podia dar. Ele porque não se abriu com ela e permitiu que ela soubesse de seus temores, não queria parecer fraco, indigno do amor dela. E a falta de diálogo os afastou. Ela o traiu – por um cara que podia praticar sexo com ela todos os dias enquanto ele trabalhava para pagar os sapatos de r$ 1.200,00 que ela curtia e mantê-la no volante de seu Honda. Ele hoje é uma pálida sombra do que foi. Diz que nunca mais irá amar.
Outra vez a namorada de um amigo desabafou dizendo que ele era frio, distante, indiferente, que achava que ele não a amava. Será que ela não percebeu que ele SEMPRE foi daquele jeito? Foi por aquela pessoa que ela se apaixonou. Que as provas de amor dele talvez não estivessem em caminhar de mãos dadas no Shopping mas no fato dele planejar lagar tudo aqui para viver com ela em uma cidade onde ela dizia ser mais feliz. Ele nunca colocou o plano maluco em prática. Ela surtou antes disso. Não percebeu que ele planejava dar TUDO a ela… dar seu futuro. E cada um seguiu seu caminho, estão longe um do outro.
Em outro caso pesou o fato de não haver patrimônio construído durante a relação. Logico que não foi observado o fato de que, apesar de tudo, havia muito amor, carinho e conforto. Que a obrigação de construir um patrimônio não era dele, nem dela. Era de ambos. Não pesou o fato dele ter sido SEMPRE uma boa pessoa, não ter vendido a alma ao demônio para TER as coisas. Ele deu TUDO que podia – e, infelizmente, isso não incluiu casas, carros e joias, mas era “pouco”. Ele se anulou por ela mas isso não foi o suficiente. Nunca é em casos assim. E assim cada um seguiu seu caminho. Ela em busca do patrimônio que descobriu ser importante, ele em busca da pessoa que achou que ela era mas que descobriu nunca ter sido. O passado ficou pra trás… e se um dia foi bonito, hoje não é mais.
É tão comum isso… talvez seja a vida que nos deixe frios, incapazes de perceber o valor dos pequenos gestos, de dar valor ao que realmente importa, de até mesmo perceber o que realmente importa. A felicidade de um casal não depende de um ou de outro… depende de AMBOS. Para tudo. Seja para felicidade sexual, sentimental ou financeira. Não adianta cobrar sua contraparte mais do que ela pode dar… que tal ajudar? Que tal observar se você está fazendo a sua parte? Que tal conversar? A receita de uma relação envolve mais cumplicidade, mais parceria e menos cobrança. Envolve mais diálogo, mais companheirismo e menos desconfiança. Envolve menos orgulho e mais amor. Afinal, amigo, não é o amor a mola mestre que move o mundo? Ou seria o dinheiro? Porque se você acha que é o dinheiro, bem, eu certamente não estou escrevendo para você.
E por fim… muito, pouco, são conceitos relativos. Cabe a você definir o que precisa na vida. Dinheiro? Sexo? Viagens? Gestos explícitos de carinho? Bem… eu? Eu preciso ser feliz. O resto é detalhe.
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Esse texto me lembrou o que diz Rubens Alves: Que os relacionamentos podem ser de dois tipos, tênis e frescobol.
(…) O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada (…). O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha.
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. (…)
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
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